Wednesday, April 26, 2006

Diz-me tu!

O olhar perde-se nesta paisagem que se desvanece. Como pode a paisagem mudar completamente num intervalo de algumas horas?
Ainda de manhã o meu olhar fugia para os verdes luminosos. Encantavam-me as belas cores das flores que pintam os campos.
Deslumbravam-me o vermelho das papoilas e o roxo daquelas flores tão pequeninas que salpicam a paisagem.
Ainda há pouco o dia começava e um leque de expectativas se abria para mim.
Ainda há pouco ...
Agora os campos estão mais tristes.
As flores desbotadas.
A luz irradiada para bem longe.
Os olhos já não se deslumbram com a paisagem que corre, veloz. Agora invisível.
Agora, apenas cenário gasto onde desfilam as imagens de um dia que passou.
Volto atrás e vejo os movimentos de todos os dias, hoje feitos com mais cuidado.
Os minutos contados com o coração nas mãos.
O nascer do sol vibrante de cores.
O vermelho do céu mais rubro.
As águas mais brilhantes.
De regresso a casa o quadro reveste-se de negro. As cores perderam nitidez.
De regresso a casa o coração chora.
Os olhos sangram.
As mãos pendem - vazias de ti.
A felicidade ficou lá. Agarrada a um corpo.
Os meus olhos, antes luminosos, apenas espelham saudade. Sangram da perda.
Como explicar? Como explicar-me nesta fase da vida, um sentimento tão violento. Um amor tão intenso.
Como diminuir a dor nas longas horas em que não estás?
Como encher o vazio das noites em que não te abraço?
Diz-me tu que és o centro da minha vida.
Diz-me tu que és a Vida.

Sunday, April 23, 2006

Guardar-te

Dou-te a mão, agora em pensamento, e dou-ta no primeiro momento em que estou contigo.
Ofereço-te os lábios. Dou-te a mão e sinto a tua, quente. Uma coisa tão simples - apenas o toque da pele - e tão importante.
Tomara tê-las agora. Apenas as tuas mãos nas minhas. Poder olhar-te assim, de perfil, como te olho às vezes, sem que me olhes directamente.
Gravo-te.
Guardo-te, para te lembrar depois.
Não é só amizade o que nos une. Apesar de ser profunda.
Não é só sexo o que nos aproxima. Apesar de ser incrível.
Não é só amor que sentimos. Apesar de ser imenso.
Também nos une este fio invisível que nos prende nesta ausência constante.
Este pensar em ti, estando longe.
Este estares em mim, apesar da distância.
Esta presença em ti, constante.
Esta lembrança de mim que guardas dentro.
Levamo-nos.
Guardamo-nos.
Permanecemos juntos.
Guardas o sabor da minha boca. O toque da minha língua. O aroma da minha pele.
Guardo a doçura dos teus beijos. A tua respiração alterada. A tua invasão de mim.
Guardo todos os encontros - tão poucos ainda!
Ouço os silêncios em que apenas o olhar fala.
Lembro as palavras murmuradas a meia voz naquela meia-penumbra de quartos meio-escondidos.
Uma realidade só nossa abrigada em clandestinas paragens - obrigada a uma clandestina vivência. Mas uma realidade tão intensa que quase me faz duvidar se não será esta a verdadeira realidade. A única. A vida verdadeira que passa por nós nestes momentos contados e tão desejados, em que nos partilhamos.
Dou-te a mão de novo agora.
Consegues ouvir o silêncio pleno de palavras por dizer?

Friday, April 21, 2006

Fim de tarde

No lugar do meu corpo,
as tuas mãos.
No lugar da minha boca,
a tua língua.
A tua marca
gravada em mim.
As loucuras,
mil.
Os desejos,
tantos.

Agora
na noite que avança
recorta-se a ausência.
A tua.
Em surdina
o meu corpo grita
para te recuperar.

Tuesday, April 18, 2006

Da ausência - VII

Da ausência, já escrevi.
Da dôr e do vazio.
Da fome
e da falta de saber que o ar
que respiro
está perto do teu.

Da ausência, já contei.
Punho fechado em torno
do coração que levaste.
Nó que aperta
e machuca.
Muro tão alto e tão negro
que me não deixa olhar
em volta o mundo.

Da ausência já sofri.
Podes voltar, amor.
Quero viver!

Monday, April 17, 2006

Da ausência - VI

Olho-me
e reconheço-me
ali jogada no chão
partida em mil pedaços.
Aqui de onde me olho
apenas os cacos se vêem
- pedaços de mim -,
dividida em mil pedaços.

Faço um esforço para montar
este puzzle de mim.
Pernas e pés.
Braços e mãos.
Tronco e cabeça.
Todos agora alinhados
formando o que sou.
- o que era.

Apenas uma peça em falta:
o coração.
Esse tem-lo tu.

Sunday, April 16, 2006

Da ausência - V

Estou imóvel
- no corpo -
porque o pensamento
navega um mundo imaginado.

Estou imóvel
- no corpo -
deixando que o tempo
passe,
resvale,
sem eu quase dar por isso,
pensando assim,
que,
imóvel,
não dou pelas horas que passam.

Talvez ele passe
assim,
sem eu mesma sentir,
sem eu mesma saber,
e amanhã
ainda vou estar,
assim,
imóvel,

como um lagarto ao sol,
como um gato à espreita,
como um corpo hibernando,

à espera,
apenas à espera,
imóvel,
que o tempo passe,
que o tempo salte
para o futuro que espero.

Saturday, April 15, 2006

Da ausência - IV

Penso onde estarás.
O que farás neste momento.
É o mesmo céu azul que olhamos e o mesmo sol que nos aquece.
É o mesmo mar que te rodeia e é também nele que deixo perder o pensamento.
Pensas-me como eu te penso?
Lembras-me como eu te lembro?
Sentes no teu peito o mesmo vazio que preenche o meu?
São apenas quatro os dias sem ti, mas como explicar esta eternidade da tua ausência?
Há apenas quatro dias que não ouço a tua voz, mas como explicar a imensa falta das palavras?
Há só quatro dias que te não vejo, mas como compensar os meus olhos da tua falta?
Penso-te a toda a hora.
Ouço-te em cada minuto.
Sinto-te. Toco-te.
E neste exercício de imaginação tento disfarçar a dor.
Tornar-te mais presente.
Disseste-me que me queres feliz, mas como sê-lo assim?

Friday, April 14, 2006

Da ausência-III

É mais triste o silêncio da manhã
pela ausência.
Pela ausência das palavras.

Thursday, April 13, 2006

Da ausência - II

Hoje parto
em busca do que vivi.
Vou encontrar-te naquele mar
vou sentar-me ao teu lado
naquela praia.
Hoje parto em busca de ti
porque a ausência dói
e preciso sentir-te aqui
mesmo que assim,
sonhando,
partindo
em busca do que vivi.
Eu e tu
de cada lado do mar.
Procurando-nos.
Eu partindo em busca de ti.
Tu vogando em busca de mim.

Apenas hoje o mar foi intruso
porque esteve entre nós!

Wednesday, April 12, 2006

Da ausência

Invade-me o tempo da ausência
- pesado e lúgubre.
É como a noite sem luar
- uma eterna escuridão.
Invade-me sem aviso.
Invade-me com violência,
como rio que transborda das margens,
como onda que destrói os pontões,
como grito que a garganta não cala.

Invade-me o tempo da ausência.
Este tempo que se prolonga
indefinido,
que se distende,
vagaroso.
Um tempo que parece sem fim.
Um tempo sem tempo.

Tuesday, April 11, 2006

Grito!

Frente a mim
em silêncio olho-me.

Desço o meu rosto
no caudal das lágrimas.
Interrogo os sulcos,
contabilizo as rugas.

Soletro em silêncio
o nome que não digo.
Murmuro nos olhos
as palavras que reprimo.

Apenas o olhar derrama o grito
que a garganta cala.

Sunday, April 09, 2006

Penso-te assim

Penso-te assim.
Querendo-te.

Puxo-te para mim
pensando-te assim.
Coloco-te as mãos
nas minhas ancas
que abraças
e te encostas
e te enroscas.
Pressionas-me assim
como eu te penso.

Olho-te
pensando-te assim
e o mar inunda-me.
As águas invadem-me.
Corro as mãos
nos teus cabelos
e desenho a
forma do teu rosto.
Assim.

Penso-te assim.
Quero-te assim.
Lábios nos meus
que saboreio e mordo
assim como quem sonha
assim como quem quer.

Penso-te assim
violando caminhos
anulando o espaço.

Saturday, April 08, 2006

Avesso

Porque é que não posso
abraçar-te,
tocar-te,
morder-te,
beijar-te,
quando quero?
Porque é que apenas
posso desejar-te assim?
Tocar-te em sonho.
Beijar-te em sonho.
Morder-te em sonhos.

Porque só estás perto dentro de mim?

Já sei!
Vou fechar os olhos,
procurar o silêncio.
E num canto afastado
virar-me para dentro.
Para dentro de mim.
Para aí te encontrar
presente.
Para aí te tocar
te beijar
te morder.
E ficar.

Saturday, April 01, 2006

Como dizer-te ...

Como dizer-te por palavras
o que as palavras
não conseguem dizer.
Amo-te tanto meu amor
e no entanto,
as palavras não dizem
o quanto ....
Quero-te tanto meu amor
e no entanto,
as palavras não expressam
o quanto ....

As palavras estão viciadas
de tanto as pronunciar para ti.
Perdem o exacto valor,
perdem a força plena,
porque o que te amo,
o que te quero, meu amor,

só os olhos
e as mãos
e os gestos
e os beijos,
esses sim,
misturados
com as palavras
podem dizer-te
o quanto te amo, meu amor.