Sunday, April 23, 2006

Guardar-te

Dou-te a mão, agora em pensamento, e dou-ta no primeiro momento em que estou contigo.
Ofereço-te os lábios. Dou-te a mão e sinto a tua, quente. Uma coisa tão simples - apenas o toque da pele - e tão importante.
Tomara tê-las agora. Apenas as tuas mãos nas minhas. Poder olhar-te assim, de perfil, como te olho às vezes, sem que me olhes directamente.
Gravo-te.
Guardo-te, para te lembrar depois.
Não é só amizade o que nos une. Apesar de ser profunda.
Não é só sexo o que nos aproxima. Apesar de ser incrível.
Não é só amor que sentimos. Apesar de ser imenso.
Também nos une este fio invisível que nos prende nesta ausência constante.
Este pensar em ti, estando longe.
Este estares em mim, apesar da distância.
Esta presença em ti, constante.
Esta lembrança de mim que guardas dentro.
Levamo-nos.
Guardamo-nos.
Permanecemos juntos.
Guardas o sabor da minha boca. O toque da minha língua. O aroma da minha pele.
Guardo a doçura dos teus beijos. A tua respiração alterada. A tua invasão de mim.
Guardo todos os encontros - tão poucos ainda!
Ouço os silêncios em que apenas o olhar fala.
Lembro as palavras murmuradas a meia voz naquela meia-penumbra de quartos meio-escondidos.
Uma realidade só nossa abrigada em clandestinas paragens - obrigada a uma clandestina vivência. Mas uma realidade tão intensa que quase me faz duvidar se não será esta a verdadeira realidade. A única. A vida verdadeira que passa por nós nestes momentos contados e tão desejados, em que nos partilhamos.
Dou-te a mão de novo agora.
Consegues ouvir o silêncio pleno de palavras por dizer?

3 Comments:

Blogger Su said...

belas palavras.gostei de ler.te
jocas maradas

9:37 PM  
Anonymous Anonymous said...

Claro que consigo ouvir o silêncio das palavras que não dissemos, tantas palavras que ficam sempre por dizer, mas que ambos conseguimos escutar nesta telepatia que nos une, neste espelho imaginário onde ambos reflectimos uma imagem de uma paisagem tão natural e tão igual, onde ambos guardamos todos os quadros deste Amor tão intenso, tão verdadeiro, tão cheio de telepatia e outras coisas sobrenaturais. Este amor que por vezes parece um sonho mas que na realidade é sem sombra de dúvida alguma o tempo mais real da nossa vida, as pequenas horas onde somos nós próprios, escondidos dum mundo construído de falsidade, egoísmo, ódio, guerra, onde a moeda é rainha e senhora, só ela pode comprar quase tudo, mas nunca, nunca conseguirá comprar um Verdadeiro Amor, porque este amor é dado, é oferecido, é partilhado, é correspondido, é de um valor sentido que por vezes me interrogo se haverá muitas pessoas a amar desta maneira, uma maneira tão pura e verdadeira

12:06 PM  
Blogger luis manuel said...

De ausência se fez fim de tarde.
O corpo grita, estende as mãos que se unem.
Mãos que agarram o silêncio onde os olhos guardam a presença.

Excelentes capítulos escritos de uma clandestina vivência.
Até eu (nós) consigo ouvir o murmurio de realidade tão intensa.

Um grande abraço

11:29 AM  

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