Wednesday, June 28, 2006

"Departure number eight"

Gotas salgadas inundam o entardecer.
Punhos fechados proclamam a dor enquanto os dentes cerrados abafam o grito.
Não, não é pelo prazer ou pela falta dele.
É aquele buraco sem tamanho que me ocupa toda - aqui, onde antes existias. É aquela dor que oprime e derruba para além da minha vontade.
Quero lembrar outras coisas, ou então tornar-me em pedra. Abrigar-me por detrás de um alto muro de cimento para que esta invasão não me atinja, mas nada resulta. A pedra afinal é areia que se desfaz com as lágrimas e o muro torna-se impossível de erguer quando as mãos a isso se recusam.
As mãos agarram ainda outras mãos - invisíveis.
As mãos tecem o contorno de um rosto - intocável agora.
As mãos sentem ainda sob elas a tua pele - sedenta da minha.
Confundidas com o vazio, as mãos preenchem com a caneta palavras que nunca dizem tudo, enquanto os olhos iludem a falta dos teus num espelho de água.
Impossível não sofrer, amor.
Tu também não consegues.

Monday, June 26, 2006

A tua voz

mergulho
nas palavras que sussurras
e é água cálida
que me envolve
e acaricia.
oiço as palavras.
isolo a voz
que se propaga em quentes notas
e sinto o desejo
que se espraia no meu corpo
como o mar.

anda! dizes baixinho.
anda!
e os teus lábios
prometem carícias e loucuras,
e a tua voz rouca
é o arco que faz vibrar
todas as cordas do meu corpo.
anda. sentes-me?
e a tua voz são mãos
e corpo que me derruba,
- o peso que me conforta.

anda. sentes-me?
a voz invade-me
como o teu sexo.
a tua boca viola-me
lambendo palavras cruas.
navego em ti!
afundo-me em ti!

anda! grito,
sê o raio,
sê o trovão,
a tempestade e o vento norte.
toma-me! funde-te em mim
para que a voz seja una
e o gesto infinito.

(Aquele desenho que com o meu dedo faço sobre o teu rosto ... quantas vezes mesmo no meu imaginário o faço! Pintamos as nossas vidas de Amor, sabes? J.)

Sunday, June 11, 2006

Sonho ... mais um!

Dá-me a loucura de uma noite
num só dia!

Dá-me a lua
e deixa-me ganhar as estrelas.
Transforma a luz em penumbra
e no branco dos lençóis
projectemos,
como no cinema,
as cenas sonhadas deste amor proibido.

Ganha o meu corpo
em cada suspiro que não consigo calar.
Vem sobre mim
e protege-me.
Ama-me
enquanto tomas de assalto
esta praça já rendida.

Entra em mim
que te aguardo desde sempre
e deixa-me que te mostre
como no rendilhado da minha pele
podes ser Tu:
criança ou Homem,
mar revolto ou espelho de água,
um ser renascido
de uma longa noite sem lua.

Dá-me a tua mão.
Eu dou-te a palavra
que te faz voar,
e sobre ela, qual tapete mágico,
sobrevoa o Futuro
que se desenrola à tua frente.
Olha-me nos olhos,
e neles, qual espelho encantado,
contempla aquele que verdadeiramente és.

Misturemos a esperança
e o verde,
as mãos e a Força,
os olhos e a ternura,
e transformemos
a noite em dia
e o Amor em Loucura.

Friday, June 09, 2006

Partida

A última vez que fiz este percurso foi contigo a falar ao meu ouvido. Acompanhavas-me e eu ... acompanhava-te.

Imaginas como é difícil afastar-me de ti?

É preciso não pensar muito.
É preciso não olhar o relógio.
Esquecer que o avanço das horas é inexorável.
É preciso pensar que ainda é cedo.

Imaginas como é difícil deixar-te?

Na viagem de regresso olho-te para te guardar.
Pego na tua mão e quero ficar nela para sempre.
Já sinto saudades dos teus lábios antes de te dar o último beijo.
Deixo a minha vida em ti no meu último abraço.
Acompanho-te com o olhar quando partes e eu inteira sou um lamento.

Imaginas como é difícil perder-te assim?

Rápida ou demorada, a partida é sempre sofrida.
Nem tu nem eu queríamos partir.
Imagino-te de regresso à tua vida, a pouco e pouco perdendo o brilho no olhar.
Vejo a tua testa franzida.
Os olhos claros agora vidrados com algumas lágrimas perdidas.
A boca cerrada num ricto triste.

É tão difícil partir.
Deixar-te ir embora.
Viver sem ti.

Wednesday, June 07, 2006

Mais um dia

Hoje não quero falar de dor.
Hoje não quero lembrar a perda.
Hoje não quero chamar as lágrimas.

Tudo porque a dor já existe.
A perda é real.
As lágrimas correm.

Hoje quero apenas lembrar a história de um dia. Deste dia.
Mais um dia em que estivemos juntos. O sétimo, ou mais um de muitos que hão-de vir.
Hoje quero apenas recordar os beijos e as promessas. Os sonhos e os abraços. A presença.
Tu e eu, lado a lado. O passos que dei abraçada, ao teu lado. Tudo o que me mostraste e ainda o que ficou por ver.
Uma vida resumida a um só dia.
Uma amostra do que poderia ser.
Uma antevisão do que um dia será.
De manhã ganhei-te. Agora perdi-te.
Amanhã ter-te-ei de novo mas de outra forma.

Ficam os sabores. As lembranças. As marcas gravadas na pele e na alma.
Tatuagens indeléveis do amor.

E tudo isto porque hoje não quero falar de dor.
Porque a dor já existe.

Porque não quero lembrar a perda.
Porque a perda é real.

Porque não quero chorar as lágrimas
Porque as lágrimas já correm.

Tudo isto porque tu não estás.

(Apenas as lágrimas e as palavras escritas dizem da tua falta. Amo-te muito J.)