Ainda há pouco amanheceu...
Ainda há pouco me iluminava a expectativa da manhã...
Ainda há pouco a tua voz me despertou...
Ainda há pouco era feliz...
Ainda há pouco...
Agora estou gelada e sinto que uma poderosa força me empurra para baixo, sempre mais fundo.
E eu não quero subir à tona. Ela e eu, de mãos dadas, bem agarradas nesta maré negra que me cega. Um peso nos pés que me arrasta cada vez mais fundo.
E faço tudo para não me debater...
Há uma mão que se estende da luz.
Há uma voz doce que me chama.
Olho para cima. Hesito.
Mas como resistir a esta força que me impele? Como desistir?
Três forças me puxam. Uma para cada lado. E eu no mesmo sítio. Emperrada.
Não sei sair. (Não quero sair?) Desatar as cordas. Romper as amarras.
Só há uma forma. Afundar-me. Lentamente. Voluntariamente.
Será que alguém está à minha espera?