Monday, January 22, 2007

Repetição

Para quê recriar-te se tudo me dói?
Inevitavelmente me perco.
Procuro a luz. Quero acreditar.

Mas para quê recriar-te se tudo me dói?

A chegada e o sorriso,
agora ocultados
por aquela janela interposta entre nós.
As mãos sem rumo,
o corpo vazio,
e a ternura ...
diluída em quilómetros
de ausência.
Repito e retomo o caminho
de antes
enquanto o medo assoma
e me
acena à esquina da dúvida.

Na sombra um sussurro.
Se .... se ... se ...

Wednesday, January 03, 2007

Mais uma vez, a ausência!

Brilha lá fora o sol e no entanto ... dentro de mim o dia vem escurecendo a cada minuto.
A manhã nasceu mais triste hoje. Ao meu lado não estavas quando acordei. Nos lençóis procurei o teu rasto - um resto de ti -, nas almofadas busquei a fragrância do amor, mas nada senti para além do calor morno do meu próprio corpo.
Disseste-me "bom dia" ao ouvido e procurei sentir-te próximo através das palavras. Falei contigo baixinho como se ali mesmo estivesses. Acariciei-te com as palavras como ontem o fiz com as minhas mãos. Deixei-me enrolar no som da tua voz como ontem me enrolei no teu corpo.
Escureceu depois, mais e mais, à medida que o sol se erguia mais alto no céu. Cada vez mais, à medida da certeza de que abraçava o vazio, à medida que o nó na garganta me impedia de respirar, de falar, de pensar, de querer viver.
Escrevo tudo isto para quê se a dor se avoluma a cada letra que escrevo? É como cavar mais fundo a tristeza, lembrar-te aqui. E no entanto é preciso. Inevitável diria!
Eterno círculo que se completa e retorna ao seu início.
Ausência, saudade ... presença ... ausência, saudade. Saudade. Saudade.
Percebes o que sinto? Compreendes do que falo?
De coisas tão pequenas que são um mundo. De palavras sussurradas que enchem a vida. De gestos, de olhares, de partilha. De nós - apenas um só.

Saudade

Ontem ainda, era ao teu ouvido que dizia boa noite e beijava-te de seguida antes de enroscar o meu corpo no teu.
Ontem ainda, estavas aqui, na minha cama, sentado à minha mesa, partilhando o meu espaço.
Ontem ainda, dava-te a mão. Podia olhar-te nos olhos e banhar-me na tua luz.
Ontem ainda os meus dedos procuravam o teu cabelo para se prenderem nele.
Ontem ainda, o teu corpo procurava o meu, as tuas mãos desbravavam caminhos sonhados, a tua boca segredava doces e obscenas palavras.
Ontem ainda ... parece que foi apenas ontem ainda ... chegaste! e do primeiro beijo, do primeiro sorriso até hoje, o relógio parou, extasiado na contemplação de um amor que ultrapassa o tempo e o espaço.
O teu cheiro está guardado em mim.
A tua pele gravada no meu corpo.
As tuas palavras, são o eco infinito que ressoa ao meu ouvido.
Viver tudo em tão pouco tempo ...
Em tão pouco tempo ... ter ... ser ... partilhar. Viver!