Wednesday, August 29, 2007

IV

Onde se escondem os risos de ontem
e as palavras aladas
quando o lodo dos dias se acumula
imparável e devorador?

III

Para quando o renascer dos sonhos?
Onde me aguardará o futuro prometido?

Quero as palavras vivas como armas.
Quero as armas cruas como garras.

Quero o dia primeiro -
intacto e puro.
Prenhe de promessas.
Único e tangível.
Para que de novo valha a pena.

Monday, August 27, 2007

II

Emotividade é sina de mulher.
A visível maldição que debilita e
nos confrange.
Secar o olhar.
O coração tornar em pedra.
Engolir esta angústia que me entope a fala.
Derrotar esta revolta a que não tenho direito.

Que restaria então de mim,
pergunto.
Mulher já não!
Falsa cópia sem valor.
Invólucro vazio.
Outra.

Sunday, August 26, 2007

I


Onde calar esta revolta que me inunda?

Como engulir estas lágrimas que não quero?

No mar não se deita apenas o Sol do fim da tarde.

Lá ao fundo, olha bem!

esbracejo eu procurando à tona

o equilíbrio.

A inocência.

Tuesday, June 12, 2007

À noite

Quando me deito, procuro-te.
Sei que não estás aqui, mas ainda assim, procuro-te.
A cama aberta mostra ainda os lençóis enxovalhados de loucuras.
A marca no livro lembra-me as noites em que leio em ti.
As roupas caem do corpo, uma a uma, num movimento lento de quem sabe ser olhada.
Sei que não estás aqui, mas ainda assim sinto o teu olhar que me persegue espraiando-se no meu corpo. Derramando aveludadas, as palavras que tento escutar ainda.
Deito-me do teu lado e é sobre ti que me acolho para a noite.
Espero o abraço que me vai devolver ao sonho.
Escuto a tua voz rouca no meu ouvido e é com ela que adormeço.

Friday, June 01, 2007

Uma espécie de aniversário

Quatrocentos e setenta dias.
Faz hoje quatrocentos e setenta dias que te vi pela primeira vez.
Tanto amor que já rolou entre nós.
Tantos beijos. Abraços. Carinhos.

Lágrimas também ...
Sempre em cada nova partida!

Quatrocentos e setenta dias de palavras partilhadas.
De sonhos construídos.
De desejos transformados.
De quereres.

Uma certeza. A de querer continuar.
Por mim.
Por ti.
Até ....

Saturday, March 10, 2007

Mágoa

Eu sei que já tenho muito!
Eu sei que transformámos os sonhos em realidade!
Eu sei que as palavras - as tuas - são o abraço que me acolhe em cada dia!
Eu sei que me queres!
Eu sei que me amas!

... mas que fazer quando tudo isto não chega!

Thursday, February 22, 2007

As lembranças ou Uma carta que te escrevi

Quedei-me a pensar em ti neste fim de noite. No que estarias a fazer. Se o mesmo que eu, ou se afinal terei ficado sozinha a ver aquele filme que acreditei estar a ver contigo.
A casa por vezes pesa neste silêncio nocturno e o saber-te ali (aqui) atenua a solidão. Há aquela frase que sei que faria sentido para ti. Há aquele gesto que sei que reconhecerias. Há o olhar que trocaríamos ou a minha cabeça que encostaria à tua.
Procuro a tua presença no lugar vazio ao meu lado. Aperto a tua mão pousada no meu colo vazio. Fecho os olhos para melhor fixar o teu olhar.
Sei-te aqui porque te quero aqui. Ou afinal não estavas?
Adormeceste no calor da tua cama. Os olhos fecharam-se naturalmente pela força do cansaço de mais um dia. Talvez até sonhes comigo. Talvez até me dês a mão. Talvez até me imagines aí junto a ti, nessa cama, nesse quarto, nessa casa. E depois acordas. O ruído da televisão ainda acesa e o filme terminado. Longe de mim afinal que entretanto perdeste no meio do sonho.
Depois de ti o corpo é um deserto. A solidão, a companheira que não quero. O silêncio, aterrador e denso neste casulo que me acolhe. Casa-casulo onde hiberno e me preparo para nascer de novo quando regressares. Casa-ninho onde embalo os sonhos e os preservo de outros olhares.
Em todos os cantos a tua presença. Às vezes queria esquecê-la porque dói demais, outras procuro-a para que me ajudes a sorrir.
Esta é a terceira noite depois de ti. O que hei-de fazer quando de noite te procurar e não estiveres lá? Como preencher o vazio que deixaste quando partiste? Dir-me-ás que não partiste, apenas nos separámos fisicamente porque na verdade estamos sempre juntos em pensamento. E eu dir-te-ei que partes em cada despedida, em cada fim de tarde, em cada desligar de telefone, em cada adeus que me dizes. E em cada partida há sempre algo que se desfaz e algo que morre cá dentro.
Tomara já a manhã. Pelo menos terei a tua voz de novo ... por mais um pouco.