Friday, July 29, 2005


"Lembro-me de uma coisa que Bruno tinha dito: é sempre terrível ver um homem que se julga absoluta e seguramente só, porque há nele algo de trágico, talvez mesmo de sagrado, e ao mesmo tempo horrendo e vergonhoso. Usamos sempre uma máscara (...) mas nunca é a mesma, porque varia em cada um dos lugares que ocupamos na vida: a do professor, a do amante, a do intelectual, a do herói, a do irmão carinhoso.
Mas que máscara pomos ou que máscara resta quando estamos na solidão, quando cremos que ninguém, ninguém nos observa, nos controla, nos escuta, nos exige, nos suplica, nos intima, nos ataca? Talvez o carácter sagrado desse instante se deva a que o homem se encontra então diante da Divindade ou, pelo menos, diante da sua própria e implacável consciência".

SABATO, Ernesto, "Resistir", p.78

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