Lado a lado

Acompanho-te numa viagem.
Uma viagem de descoberta.
Dou-te a mão
se a quiseres pegar.
Aponto-te o caminho
se o quiseres seguir.
Acompanho-te
se me quiseres ao teu lado.

Faço incidir a luz aqui e ali
sem te ofuscar,
mostrando-te apenas
que há caminhos iluminados.
Mostro-te os troços
mais seguros da estrada
- aqueles que podes pisar com segurança.
Dou-te o meu braço quando tropeças.

Por vezes vou à frente e
sorrio-te
mostrando o meu apoio.
Outras,
hesito em apontar-te o caminho.
Quero deixar-te escolher
porque tens que ser tu mesmo a escolhê-lo.
Acompanho-te nesta viagem que
decidiste empreender.
Comigo ou por mim.
Uma viagem de afirmação de ti
feita de passos que só tu podes dar.

Saudade

Como custa sentir saudade!

Pensar em ti e apenas
te lembrar.
Acariciar o teu rosto
no meu pensamento.
Sentir o teu corpo apenas
em sonhos.

Saudade é palavra ingrata.
Traiçoeira.
Dorida.

Um dia,
apenas falaremos dela
sorrindo,
porque nesse dia
estaremos juntos!

...

É profundo o vazio quando partes depois de apenas um minuto ao teu lado.

Porque...

Porque o dia está belo e o sol morno.
Porque há um aroma de Verão no ar.
Porque estou só e um pouco triste.
Porque estás longe e não ouço a tua voz.
Porque sinto a tua falta - a falta da tua presença junto a mim.
A falta do carinho e das palavras.
A falta das tuas mãos no meu cabelo.
A falta dos teus dedos que me desenham a face com ternura.
A falta dos teus olhos tão verdes, que de pensar neles me fica um nó na garganta.
A falta de perder os dedos no teu cabelo.
A falta de te ouvir apenas respirar.
Escrevo para ti. Para te sentir mais próximo.
O que eu queria verdadeiramente era poder pegar nas tuas mãos. Olhar dentro dos teus olhos. Passear à beira-rio ou à beira-mar. Afundar-me no teu olhar em mil pôres-do-sol e despertar ao teu lado em eternas manhãs.
E conversar pela tarde fora e pela noite dentro, e quando cansados os olhos pesassem, deixar-me abraçar por ti e viver ao teu lado tudo o que agora apenas sonhamos.
É pedir muito, eu sei!
É querer demais, eu sei!
Mas à nossa frente esboça-se o perfil de uma ampulheta que inexoravelmente avança para o fim. E eu tenho medo. Medo de não ter tempo. De não ter tempo de te ter.

Despedida

Repetimos vezes sem conta
o quanto nos amamos.

As palavras e os gestos
dizem-no.
Os afagos também.
Os olhos repetem-no igualmente.
As mãos afirmam-no.
O corpo mostra-o.

"Amo-te muito"...
Nessas duas palavras
cabe um sentimento sem tamanho,
expresso num abraço
de que não queremos soltar-nos.

Nas mãos que aperto ficam
os traços de outros gestos,
e no último beijo
o sabor que preciso guardar.

Caminho sem olhar para trás.
A isso me obrigo,
para que os passos não se
autonomizem
e recusem a partida.

Em ti

Em ti senti
o timbre da saudade
e o travo da dor.

Em ti senti
toda a tristeza
que não me quiseste contar.
Todas as lágrimas
que quiseste calar.

Em ti senti
o meu desespero
por não conseguir
abraçar-te.

Construção

Peça a peça
construo o Futuro.
Removo o inútil.
Enterro o supérfluo.
Com estas mãos gastas
moldo,
transformo
e coloco de novo
pedra sobre pedra.
Lentamente
mas sem retorno
caminho
para me encontrar.