Monday, February 27, 2006

Diário

Neste diário da ausência
registo os dias
em que te não tenho.

Como o pouco
se transforma em eternidade!

Como compensar as
carícias
com palavras?
Como saborear os beijos
nos meus sonhos?

Neste diário da ausência
registo
a falta dos teus dedos na minha pele,
a festa que não fizeste no meu cabelo,
os beijos que não deste nos meus olhos.

Neste diário da ausência
escrevo da dôr
- pesada como uma mão
fechada no meu peito.

Nesta ausência diária
do teu corpo,
assento as horas e os minutos que ainda faltam
para que comigo escrevas
o diário de um dia perfeito.

Thursday, February 23, 2006

Conquista

Dá-me a tua mão e vence o espaço!
Viaja pelos dias que hão-de vir!

Esta chuva que cai
e que são lágrimas,
transformemo-la em Mar.
Vem espraiar nele o olhar
e mergulhar nessas ondas
comigo
para delas emergirmos
renascidos.

- Querendo
viver um dia novo.

Olha os meus olhos
e viaja pelo amanhã.
Aquele que eu sonho.
Aquele que desejas!
Vê-me luminosa e viva,
grávida de esperança
e à tua espera em cada manhã.

Vem acolher-te neste abraço
que abro para ti
e mata nele a tua fome
de ternura.

Guarda o passado!
Esquece o tempo perdido!
E das lágrimas que ainda derramares
faz brotar o Futuro.

Tuesday, February 21, 2006

Na tua ausência

No dia primeiro da tua ausência,
faltaram
as tuas mãos na minha pele,
os teus beijos ...
e o teu corpo.

E ficou a dôr.

No dia segundo da tua ausência,
faltaram
as tuas mãos na minha pele,
os teus beijos na minha boca,
e o teu corpo ...

E doeu a perda.

No dia terceiro da tua ausência,
faltaram
as tuas mãos na minha pele,
a tua língua na minha língua,
e o teu corpo sobre o meu corpo.

E o coração sangrou.

No dia quarto da tua ausência
gritei o teu nome
e sonhei ...
com as tuas mãos sobre a minha pele
com a tua língua na minha língua,
contigo dentro do meu corpo.

E nessa noite o Sol brilhou.

Saturday, February 18, 2006

Lembrança

Dos teus lábios
guardo a doçura com que me beijas.

Da tua língua
guardo a carícia que me satisfaz.

Das tuas mãos
guardo o amor com que me tocas.

Do teu corpo
guardo o peso com que me cobres.

Da tua voz
guardo as palavras que sussurras
no meu ouvido.

Guardo-te assim, inteiro,
nos meus sonhos mais secretos
e envolvo-te num abraço em que me perco.

Thursday, February 09, 2006

Margens

Vivo na margem do segredo,
onde num estuário de sombra
desaguam os medos.
Clandestino o seu leito,
pedregosos os fundos,
- rio revolto de raivas surdas
e secretos caudais!

Habito margens desertas
e áridas
que povoo de sonhos.
Guardo mistérios de palavras mudas
em bocas caladas.

Secretamente vivo
e em silêncio grito!

Saturday, February 04, 2006

Viagem

Vem,
dá-me a tua mão
e vem olhar a madrugada.
Sente a sua frescura possuir-te
para em seguida
melhor saboreares o meu calor.
Olha ainda as cores
do despontar da vida
para depois te perderes no meu olhar.

Vem,
dá-me a tua mão
e deixa-me mostrar-te o mar,
o meu mar de vagas alterosas
desfeitas em espuma.
E em seguida ...
em seguida navega o meu corpo
numa maré alta de desejo...

Ao porto dos teus sonhos
chegarás
- sedenta a alma,
saciados os sentidos -
e aí te envolverei com os meus braços
- eterno cais de inúmeras
partidas.
E num mar cálido de ternura,
fechados os olhos,
sonharemos outros mares ...
outras madrugadas ...
outras viagens!

Friday, February 03, 2006

Maresia

Entre a arriba e o mar
- a procura.
Entre a chuva e as lágrimas
- a maré alta.
Entre a espuma e o sémen
- a ternura.

Maresia que tardava
no ocaso da Vida.