Saturday, January 28, 2006

Sonhos

Neste tempo presente
que do tempo roubo,
os sonhos que no tempo
se haviam perdido
encontram enfim o tempo de ser:
sonhos.

Neste tempo presente
que do tempo roubo,
ganho a eternidade
e o tempo não perco.

Fujo do tempo inútil
e do sonho sem tempo.
Iludo o tempo.
Sonho!

Monday, January 23, 2006

...

Ainda há pouco amanheceu...
Ainda há pouco me iluminava a expectativa da manhã...
Ainda há pouco a tua voz me despertou...
Ainda há pouco era feliz...
Ainda há pouco...

Agora estou gelada e sinto que uma poderosa força me empurra para baixo, sempre mais fundo.
E eu não quero subir à tona. Ela e eu, de mãos dadas, bem agarradas nesta maré negra que me cega. Um peso nos pés que me arrasta cada vez mais fundo.
E faço tudo para não me debater...
Há uma mão que se estende da luz.
Há uma voz doce que me chama.
Olho para cima. Hesito.
Mas como resistir a esta força que me impele? Como desistir?
Três forças me puxam. Uma para cada lado. E eu no mesmo sítio. Emperrada.
Não sei sair. (Não quero sair?) Desatar as cordas. Romper as amarras.
Só há uma forma. Afundar-me. Lentamente. Voluntariamente.
Será que alguém está à minha espera?

Sunday, January 22, 2006

Palavras ... várias ...

Livres,
os passos percorrem as palavras.
Por caminhos sentidos
e nunca pisados.
Por caminhos calados
e sempre desejados.

Hesitantes,
os passos percorrem as palavras.
Tímidos, espreitam.
Insinuam-se no caminho.
Tomam forma.
Ganham força.
Instalam-se.
E o caminho antes sinuoso e baço
De primaveras se veste.

Livres agora, as palavras
acompanham os passos
e no Futuro se perdem!

Saturday, January 21, 2006

Música

Nesta corda que vibra
e é o meu corpo,
tocas acordes de sonho
que me despertam
e pintas arco-íris
que me deslumbram e iluminam.

Nesta corda que vibra
e é o meu corpo,
acendes uma fogueira
em cada noite,
e nem as lágrimas amor,
nem as lágrimas a
conseguem apagar.

Neste corpo que vibra
e que é o meu corpo,
tocas uma corda há muito esquecida
e cantas o amor em cada manhã.

Wednesday, January 18, 2006

A-mar

Quando a voz se faz gesto
o dia nasce.
Quando a voz se faz carícia
são mil as palavras que me afagam.

E é no gesto que as palavras tomam forma
e nas palavras que se molda o gesto
de amar,
num mar imenso de palavras.

Sunday, January 15, 2006

Amanhecer

Amanheci em ti!
Ao meu lado não respiras
e não é a mim que abraças,
e no entanto,
é contigo que desperto.
Neste silêncio que povoas
a tua presença
é o fogo que me aquece.
É para mim que falas.
É a mim que tocas.
É a tua boca que sonho sobre a minha.
É o teu corpo que sinto junto ao meu.

Não durmo já.
A manhã trouxe-te,
e são já tantas as madrugadas
que percorremos.
Tu e eu.

Tão perto e tão longe.

E é um mar de ternura que nos une!
E é um caudal de lágrimas que nos aparta!

Tão perto e tão longe!
À distância de um desejo!

Wednesday, January 11, 2006

Para ti

Quando me chamas meu amor
há mais um muro que cai,
mais uma onda que se espraia
e um dia que amanhece.
Quando me chamas meu amor
fico mais doce,
e mais fortes as batidas de um coração
calcificado pela espera.
Quando me chamas meu amor
quero tanto sentir-te em mim.
Quero tanto
poder ver-te inteiro,
e aí sim,
olhos nos olhos,
mãos nas mãos
e a promessa realizada
da tua pele na minha,
a vertigem de uma empatia
que não é só voz,
que não apenas palavras.
Aí, meu amor vou saber,
vou sentir,
vou poder
chamar-te meu amor,
docemente, como desejas.

E as palavras
serão também corpo.

Tuesday, January 10, 2006

Penso...Vida

Penso mar
e os olhos sonham a maré baixa.
Penso manhã
e no horizonte desenha-se o arco-íris.
Penso sol
e a pele, de prazer se abre.
Penso em ti
e sinto a tua carícia.

Ganho em mim
o tempo idealizado.
Ganho enfim
Vida.

Tarde de mais!

Os pássaros são livres.
O universo ilimitado.
O mar é imenso.
O céu profundo e vasto.
Pobres de nós,
humanos tristes.
Vidas restritas,
enredadas.
Embaraçadas numa teia fina
que a muito custo rompemos.

Que sabemos nós da liberdade?
Com que escuras tintas
colorimos os dias!
Em que fina malha nos deixamos
apertar!

Sacudo-me. Revolto-me.
Estendo as asas
em busca do além,
- do ilimitado.
Estrebucho apenas,
- inúteis os gestos.
Perdidos os desejos.

Como voar mais alto
se as asas estão cortadas?
Como olhar o horizonte
se a noite cai?

Livre, apenas no sonho
e na solidão das manhãs.
Livre na morte,
um dia.
Tarde de mais!

Wednesday, January 04, 2006

A outra

A outra face.

Debaixo da máscara
- escondida -
protegida,
oculta do mundo.
Livre de censuras.
Roubada à vida.
Mais pura.
Mais livre.

A outra - outra de mim.
Visto-me de mentira.
Dispo-me da moral
politicamente correcta,
- socialmente admitida.

Aceito-me impura.
Ilícita.
Dúbia.
Travo em cada dia
uma batalha já perdida.
Neste jogo viciado
a máscara dá as cartas.
E ganha!

Tuesday, January 03, 2006

Reflex(ã)o

Percebes em mim toda ternura
ou lês nos meus olhos apenas o desejo?

Vês por detrás das palavras
que não digo
todo o vazio que me percorre?

Sentes nos meus beijos
o desespero,
a urgência e
o medo?

Se tudo isto leres em mim
então os meus olhos são
transparentes como vidro.
As palavras que recuso dizer
ecoam vibrantes sobre ti.
Nos teus olhos reflectido
o meu verdadeiro Eu.

Navegando

Navego no teu corpo.
O mar revolto do desejo lambe a proa.
A quilha rasga fundo as águas.

Leva-me para longe
onde as águas são mansas e
embalam o meu corpo.
Leva-me para onde
as palavras que sussurro pairem no ar
e levemente - docemente -
desçam sobre ti
- corpo-barco.
- palavras-carícia.

Mostra-me o cais onde te acolhes
e,
âncora de ti,
não me deixes naufragar
neste mar de destroços que me envolve.

Submersa - mas em ti
e profundamente viva.

Monday, January 02, 2006

Pedido

Vem de mansinho sobre mim!
O aroma sentido.
A carícia suspensa.

Vem de mansinho!
Toca-me.
Leva-me no teu beijo.
Ganha-me no teu abraço.

Vem!
Vence a minha frouxa resistência.
Exige o que não posso dar-te.
Vem, como só tu sabes.
Libertar-me.