Wednesday, August 31, 2005

De...Sigmund Freud

"A alegria de saciar um instinto selvagem é incomparavelmente mais intensa do que a de satisfazer um instinto domado".

Tuesday, August 30, 2005

Empatia

Os teus olhos procuraram-me.
Os meus olhos encontraram-te.
As minhas mãos quiseram-te.
As tuas mãos tocaram-me.
A tua boca quis a minha.
A minha boca desejou-te.
Os nossos corpos,
um só.

Sunday, August 28, 2005

De.. Paul Auster

"O mundo é governado pelo acaso. O aleatório ronda a presa que nós somos, todos os dias das nossas vidas, e essas vidas podem ser-nos roubadas a qualquer momento - por razão rigorosamente nenhuma".

AUSTER, Paul, "A Noite do Oráculo", Edições Asa, Porto, p.17

Gota a gota...

Voltas trocadas.
Vida enredada.

Há malhas que me estreitam e sufocam
numa rede apertada e fina
através da qual não posso ver.

Rede estreita
aquela em que me embrulho.

Quanto mais estrebucho,
quanto mais tento alargar as malhas
deste rede que me envolve
desta vida que me enrola,
mais me enredo,
mais sufoco,
menos vejo.

Trocam-se as voltas
Enreda-se a vida.

Mas como um conta-gotas
a contagem para o fim não se detém.
Cada vez mais próximo.
Indectável, porém.
Também ele tecido nesta malha apertada e fina
em que me embrulho,
em que me enredo.

Um dia sobre cada dia.
Uma hora sobre cada hora.

Gota a gota...
Gota a gota...
Gota a gota...

Saturday, August 27, 2005

Detalhe de um cacto



Foto de Gerhard Hudepohl

Fim de tarde

E neste fim de tarde
o sorriso
desfez-se
e o desânimo nasceu.
Tão poucas palavras foram ditas.
Apenas a antevisão do fim da noite
bastou.
Sem amor.
Sem desejo.
Um ritual que se cumpre.
É preciso esquecer
que estou aqui.
Que estou ali.
É preciso esquecer quem sou
e o que quero ser.
Aqui sou outra.
Aqui não sou Eu.

Friday, August 26, 2005

O corpo Os corpos

O teu corpo O meu corpo E em vez dos corpos
que somados seriam nossos corpos
implantam-se no espaço novos corpos
ora mais ora menos que dois corpos

Que escorpião de súbito estes corpos
quando um espelho reflecte os nossos corpos
e num só corpo feitos os dois corpos
ao mesmo tempo somos quatro corpos

Não indagues agora se o meu corpo
se contenta só corpo no teu corpo
ou se busca atingir todos os corpos

que no fundo residem num só corpo
Mas indaga sem pausa além do corpo
o finito infinito destes corpos

David Mourão Ferreira
"Obra Poética"

Vem

Vem amor.
Vem de novo percorrer o meu corpo
e saborear-me inteira.
Em cada pedaço de mim encontro-te gravado.
Inunda-me ainda o suor que derramaste
e sinto o teu sémen
como uma dádiva.
O teu nome
pronuncio-o com todas as letras.
O teu cheiro
é intenso e doce.
Vem amor.
Vem mais uma vez possuir-me inteira,
de uma forma louca e vadia.
Possuir-me com as palavras e os actos,
com os olhos e os abraços,
e depois deixa-me ir.
Livre e só.
Para que te invente.

Wednesday, August 24, 2005

O meu corpo recebe o sol como uma dádiva.
O vento, uma carícia fresca que me agita
e ao fundo, o mar.
O seu som, omnipresente
preenche-me o pensamento.
O meu corpo como um cálice
abre-se ao sol.
Recebe a sua dádiva com um sorriso
irreprimível.
As minhas mãos distendem-se
e acariciam algo
que só eu vejo,
que só eu sinto.
E sorrio.
Revejo outros mares
outros sóis e aragens
que para lá do tempo
me vêm à memória.
Recordo outros rostos, que de longe,
como fotografias desbotadas
me acenam,
relembrando-me que
já fizeram parte de mim
algures, num tempo já perdido.
Ouço as vozes do passado
como se estivessem aqui.
E em fundo, sempre o mar.
Omnipresente.
Sou feliz e não sou.
Estou aqui e não estou.
Estou onde nunca posso estar.
Num espaço povoado
de rostos esbatidos
de vozes surdas
e de gestos vividos.
O meu espaço.
O meu tempo.
Só.

Tuesday, August 23, 2005

In(satisfação)

De gestos sôfregos
se fez a tarde.
Com palavras sussuradas
e actos que de tão sonhados
parecem já vividos.
Os corpos procuram-se.
Há uma pressa no ar,
um desejo há muito por satisfazer.
As roupas arrancadas,
caem.
As bocas tornam-se apenas uma.
O desejo escorre pelos corpos nus.
Aquela hora passa num segundo.
O teu corpo cansado,
consolado,
saciado,
repousa agora.
O teu desejo satisfeito.
O olhar no vazio.
Só eu procuro ainda
encontrar o teu olhar,
um gesto teu,
um pouco do teu calor ...
que não vem.
A tarde acabou.
A hora transformada num segundo.
O desejo (in)satisfeito.

Monday, August 22, 2005

Quero-te

Neste fim de tarde
não quero pensar em ti!

Neste fim de tarde
não quero recordar-me
dos teus olhos de mar,
não quero lembrar-me
do toque molhado da tua pele,
das tuas mãos possessivas que me tomam inteira,
dos teus abraços violentos
e das palavras rudes
que me sussurras ao ouvido.

Neste fim de tarde
não quero pensar em ti!

Neste fim de tarde, quero-te aqui!

Saturday, August 20, 2005

"Chamemos as coisas pelos nomes. O amor que transportamos vai-se gastando por onde passamos. Não nasce do vento. O que levamos deste amor para aquele é muito pouco, não chega para nada. É preciso ter a vontade e a energia e a concentração para começar tudo outra vez. Não somos donos de nada. O que mais importa é o que só passa e nem se deixa tocar com os dedos. É preciso ter cuidado. De repente, à luz da noite, uma só aflição."

in PAIXÃO, Pedro, "Amor Portátil", Livros Cotovia, Lisboa, 1999, p.71

Thursday, August 04, 2005

Recordo quando me roçavas as mãos ... a emoção e o prazer que sentia!
Relembro quando me beijavas o rosto ... como o beijo se prolongava num tempo imaginado. Revejo-te quando me olhavas e o teu olhar me acariciava e penetrava!
Recordo quando me falavas de certa maneira, como a tua voz me provocava um arrepio por todo o corpo!
Porque é que tudo isto dura apenas um instante? Porque não se prolonga a sedução?
É da antecipação e do imaginário que retiro o meu maior prazer.
O que é a sedução senão a antecipação da acção.
Antecipo o amanhã.
Fecho os olhos e vejo-te.
No silêncio ouço a tua voz rouca.
Respiro o teu cheiro.
Sinto a tua pele deslizar pelas minhas mãos.
Sinto-te hoje.
E amanhã?

Wednesday, August 03, 2005

A outra face

Amiga
suspeitarias tu que por detrás
desta minha vida perfeita
existe uma outra vida!
Amigo
imaginarias tu que por detrás
desta capacidade de dar que me atribuis
existe uma outra faceta!
Homem que comigo
partilhas a existência
que dirias se soubesses que por detrás
deste ritmo sempre certo
existe uma outra mulher!
Amante que comigo
vives tantos momentos de loucura
acreditarias que por detrás
deste fogo que nos queima,
para além dos meus sentidos que te exaltam,
existe uma outra pessoa!
Apenas a mim mesma não engano.
Apenas eu conheco a outra face!

Tuesday, August 02, 2005

"As noites sucedem-se aos dias e os dias às noites, eis o que se pode dizer, e quando nada acontece vai-se perdendo a insensata esperança de esperar que algo aconteça e depois, pouco a pouco, sem se dar conta, perde-se a vontade"

PAIXÃO, Pedro, "Amor Portátil", Livros Cotovia, Lisboa, 1999, p.62